Nomadland: o futuro pode ser uma miragem no deserto do capitalismo


Nomadland, filme de Chloé Zhao, tem uma fotografia lúdica e suave para mostrar a dura vida das pessoas que moram em suas Vans, cruzando a América como nômades e fugindo do capitalismo.

Frances McDormand em Nomadland

O capitalismo ajudou a falir o sistema de saúde, aumentou o custo de moradias e da educação, além de ampliar os frequentes casos de desemprego. Isso tudo transformou o famoso sonho americano, num pesadelo sem fim. Enquanto muitos imaginam uma casa com aquela cerca branca e bandeira americana na porta, outros deixam a vaidade de lado, juntam os seus bens materiais e encaram a estrada. Nomadland, de Chloé Zhao, é um retrato de uma subcultura que escolheu escapar das expectativas irrealistas, aquilo que a ilusão do capitalismo cria à todo momento.

O filme é terrivelmente comovente, real e dolorosamente relevante para esses tempos sombrios que vivemos. A talentosa atriz e ganhadora do Oscar, Frances McDormand, interpreta Fern, uma viúva de sessenta anos que foi forçada a deixar sua casa e sua vida na cidade de Empire, Nevada. Tudo porque uma indústria de gesso, que foi realmente destruída na vida real, resolve fechar as portas e isso deixa a cidade totalmente deserta. Funcionários como Fern foram despejados de suas residências funcionais quando a fábrica foi fechada e todos partiram da cidade.

Nomadland é um filme sobre paz e serenidade

A emoção em torno da morte do seu marido, juntamente com a incapacidade de conseguir um emprego estável, motiva Fern a encontrar algo novo. Essa mudança leva Fern a praticar um estilo de vida nômade, sustentando-se com o dinheiro de empregos sazonais e, ao mesmo tempo, buscando uma verdadeira conexão humana. Fern não é uma sem-teto, mas sim uma sem casa, pois ela vive na van em que mora e vai com ela para todos os lugares.

Você pode esperar ver uma mistura de fúria, ressentimento, tristeza e derrota nesse filme. Mas, em vez disso, há um sentimento predominante de paz e serenidade. À medida que Fern viaja de um lugar para outro e conhece mais e mais pessoas, que também vagam pelo oeste americano, ela percebe que se deparou com uma comunidade anteriormente desconhecida e com a qual pode se relacionar.

Nomadland faz uma crítica ao capitalismo

A dura realidade desses nômades fica ainda mais cruel, quando vemos a maneira como o governo oferece assistência. Eles dizem que só é possível ajudá-los, quando ele perderem as casas onde moram. No entanto, esse processo pode demorar cerca de dois anos e, enquanto isso, as pessoas vendem seus móveis e até as suas roupas, para sobreviverem. Nomadland consegue apresentar toda essa crueldade criada pelo capitalismo e vemos isso desde a primeira cena.

Em cada parada onde Fern acampa, ela conhece outras pessoas que se recusaram a viver o estilo de vida padrão. Uma vida que só oferece um trabalho interminável e cansativo, até a morte de cada trabalhador. Nessas pequenas comunidades, à beira da estrada, emerge um grupo que troca ferramentas e compartilha uma bagagem emocional. Eles compartilham suas histórias e apoiam-se mutuamente, proporcionando verdadeiros atos de carinho.

Todos cuidam dos seus companheiros nômades, com um raro nível de respeito, algo que não deixa espaço para nenhum tipo de julgamento. Um momento sincero, que comprova esse respeito, mostra uma negociação entre Fern e outro nômade. Os dois negociam a troca de um abridor de latas, por um pegador de panela. Isso é um lembrete de que existem alternativas para comprar, sem a necessidade de um grande varejista. Da mesma forma, a cena prova que podemos encontrar outras opções de conexão humana, além das mídias sociais.

Filme é inspirado pelo livro Nomadland: Sobrevivendo à América no Século XXI

O filme é baseado no livro de não ficção Nomadland: Sobrevivendo na América no Século XXI, de Jessica Bruder, um estudo brutal de como a grande recessão americana forçou os idosos à deixarem suas casas e comunidades. O filme romantiza a existência de idosos vagando pelas rodovias e atalhos da América, em busca de trabalho e estacionamento gratuito. Nomadland tenta suavizar o pesadelo causado por essa crise econômica eterna, causada pelo capitalismo.

Por outro lado, grandes corporações já descobriram o valor desses trabalhadores errantes e passaram a recrutá-los, obtendo créditos de impostos federais quando contratam vários deles. Isso porque eles se enquadram em categorias desfavorecidas e as empresas também se beneficiam do fato desses trabalhadores exigirem pouco, em termos de remuneração e benefícios, além de não apresentarem nenhum risco de sindicalização. Mais uma face cruel do capitalismo selvagem do século XXI.

Nomadland tenta mostrar que nesse estilo de vida as pessoas, finalmente, encontram uma falsa sensação de liberdade. A natureza deixa de ser um pano de fundo distante e passa a ser o verdadeiro lar desses nômades. O filme também mostra que eles encontram, eventualmente, uma comunidade mais calorosa, mais tolerante e muito menos opressora do que eles provavelmente tinham, porque será uma comunidade de pessoas que foram jogadas fora, só que agora elas estão unidas.

Nomadland mostra o fracasso do capitalismo

Temos muito poucos filmes utópicos e quase todos eles surgiram décadas atrás. No entanto, Nomadland é ainda mais interessante, porque apresenta uma estrutura distópica de uma nação em decadência, o que provavelmente lhe oferece um poder emocional surpreendente.

O fracasso do capitalismo na América e no mundo, ficou mais evidente agora, principalmente após uma pandemia global, que ainda circula por aí. Por isso líderes mundiais, ONGs e universidades discutem a criação de uma renda básica de cidadania (Universal Basic Income). Só que isso é muito mais complicado do que trocar um abridor de lata na estrada, como Fern fez.

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