Drácula: Bram Stoker criou um personagem que alimenta o medo e a ansiedade humana

O Conde Drácula, de Bram Stoker, revela não apenas os medos da era vitoriana, mas também os medos que ainda existem na sociedade, até hoje.

Dracula Bram Stoker

Versão cinematográfica do Drácula, de Bram Stoker

O livro Drácula, do escritor irlandês Bram Stoker, foi lançado em 26 de maio de 1897 e já tem 126 anos. O livro foi escrito no final do século XIX, quando as mulheres defendiam direitos iguais na sociedade. Por isso criaram o termo Nova Mulher, utilizado para descrever essas mulheres que proclamavam, abertamente, a sua independência dos homens. Essa ameaça às ideias convencionais de sociedade provocaria várias mudanças e, portanto, incomodava o patriarcado.

O movimento sufragista surgiu exatamente nesse século, com as mulheres reivindicando sua liberdade sexual, física e também no local de trabalho. O romance Drácula, de Bram Stoker, retrata justamente os ideais dessa nova mulher, pois o romance inclui essa nova sociedade moderna. Assim surge o Conde Drácula, um dos monstros literários mais icônicos e duradouros.

Bram Stoker não revelou apenas os medos dessa era vitoriana, mas também os medos que ainda permaneciam em qualquer sociedade. Drácula é uma história de terror, por que ele descreve os medos e prazeres humanos, como sexualidade e morte. Essa história também aborda a ansiedade na cultura ocidental, que vem junto com o progresso social. Ou seja, Drácula representa o medo ao progresso social, por isso utiliza simbolismos da natureza médica, religiosa, legal e sexual. O livro também explora as primeiras ideias sobre o feminismo e pensamento científico, algo que ainda incomoda.

Por incrível que pareça, existem mais de 200 filmes sobre o Conde Drácula, um número que só perde para os filmes de Sherlock Holmes. Lógico que não vamos falar sobre todos, mas escolhemos alguns filmes e mostramos abaixo. A lista está sem ordem de preferência, pois é muito complicado escolher o melhor filme sobre Drácula.

O Horror de Drácula – 1958

Christopher Lee

Christopher Lee no filme O Horror de Drácula

Christopher Lee ofereceu uma das performances mais icônicas de Drácula, assustando várias gerações de fãs de filmes de terror. Esse foi o primeiro filme de Drácula que eu assisti, quando morava em uma casa antiga com portas e janelas gigantescas. O diretor Terence Fisher merece muito crédito, pois criou um filme autêntico e assustador, até mesmo para os padrões de hoje, uma verdadeira obra de arte.

O filme O Horror de Drácula introduziu vários personagens secundários, principalmente Van Helsing (Peter Cushing). Esse filme teve o seu título alterado para O Horror de Drácula, para se diferenciar do clássico original, com Bela Lugosi. Christopher Lee interpretou o personagem por nove vezes, algumas junto com outros monstros da Hammer Film Productions

Drácula – 1931

Drácula Bela Lugosi

Drácula Bela Lugosi

Todo mundo já deve ter visto esse Drácula, de 1931, pelo menos uma vez na vida. Essa produção, da Universal Pictures, é a primeira adaptação sonora oficial do romance de Stoker e apresenta Bela Lugosi no papel principal, como o Conde Drácula. Foi esse filme que realmente iniciou o legado cinematográfico do vampirão mais famoso do cinema. Além disso, o filme foi um grande sucesso comercial e de crítica e, por causa disso, teve várias adaptações. O Drácula de Bela Lugosi estabeleceu a primeira imagem desse personagem, algo que a maioria das pessoas lembra até hoje. Esse Drácula estava sempre bem vestido, era sombrio, misterioso, intrigante e, lógico, muito perigoso.

Drácula apresentou os seus caninos no cinema e a Universal Pictures se tornou líder na categoria filmes de terror. O estúdio criou filmes com todos os pesos pesados ​​do terror: Frankenstein, A Noiva de Frankenstein, A Múmia, O Homem Invisível e O Lobisomem. Várias pessoas achavam que o Drácula de Lugosi, era realmente um Drácula real. A grande atuação do ator serviu de inspiração para futuros Drácula, como Christopher Lee e Gary Oldman, por isso Lugosi alcançou um status de lenda, no reino dos filmes de terror.

Hotel Transilvânia – 2012

Hotel Transilvânia

Drácula em Hotel Transilvânia

Drácula é uma figura assustadora e não deve nunca aparecer em comédias ou animações, pois Bram Stoker levantaria do seu túmulo. Mas a animação Hotel Transilvânia não estava nem aí, e fugiu muito desta regra, que na verdade nunca existiu. A animação traz um Drácula imponente, mas bem engraçado e um excelente pai para sua filha. Esse Drácula não quer sangue, ele está mais preocupado em cuidar do seu amado hotel, deixando-o pronto para receber todos os monstros que existem por aí. Ou seja, papai Drácula não passa as noites caçando pessoas, mas sim cuidando de sua família e amigos.

O filme tem várias piadas e personagens bem simpáticos, incluindo outros monstros clássicos bem conhecidos, como o Monstro de Frankenstein, o Homem Invisível e a louca família Lobisomem. Os atores têm excelentes atuações de voz, com Adam Sandler interpretando Drácula e Selena Gomes como a sua filha, Mavis. Hotel Transilvânia é uma excelente alternativa para quem gosta de filmes do Drácula, mas não quer ter medo, ou para pretende assistir filmes do Drácula com crianças.

Drácula – 1979

Drácula Frank Langella

Drácula – Frank Langella

Mais uma adaptação do clássico de Bram Stoker que eu assisti no Cinema, provavelmente em alguma sessão das 14:00, pois em 1979 eu tinha muito tempo. Enquanto várias adaptações de Drácula trazem muito pouco conteúdo sexual, o filme de John Badham está com o tesão à flor da pele. Este remake da Universal, traz Frank Langella como um Conde Drácula arrojado e em busca do amor. Ou seja, esse Drácula não era simplesmente um sugador de sangue malvado. Por isso era um filme perfeito para adolescentes com o sangue fervendo. Langella representava Drácula na Broadway e aceitou o papel nesse filme, desde que não tivesse nenhuma presa pingando sangue. Descobri isso depois de ler uma entrevista do artista.

Falando sobre o personagem, Langella disse: “Eu não o interpreto como um monstro de arrepiar os cabelos. Ele é um nobre; um homem elegante, mas com um problema muito difícil, pois tem um problema social único e distinto. Ele tem que ter sangue para viver, para manter sua imortalidade”. A atuação de Frank Langella trouxe uma das interpretações mais humanas do Drácula.

Nosferatu – 1922

Nosferatu

Nosferatu

Já falei sobre Nosferatu aqui no MobDica, pois esse filme é uma espécie de anomalia do cinema. Ele foi criado durante uma era primordial para a produção de filmes mas, de alguma forma, conseguiu trazer um terror que alguns filmes modernos jamais conseguiram alcançar. Há uma mistura de elementos que fazem Nosferatu ser um filme tão assustador. Sua falta de som, misturada com um trabalho de câmera em preto e branco, deixam esse pesadelo vivo na sua tela de TV. Procure assistir Nosferatu à noite e com as luzes apagadas.

Nesse filme, o personagem Drácula foi renomeado como Conde Orlok, para tentar burlar as leis de direitos autorais, que você pode ler com detalhes nesse artigo. O trabalho de maquiagem desse filme é perfeito, pois acentua os olhos intimidadores do ator Max Schreck. Além disso, oferece uma aparência macabra ao ator, pois a maquiagem tem uma harmonia perfeita com a iluminação. Podemos dizer que Nosferatu é o filme de terror mais importante já feito.

Um Vampiro no Brooklyn

Um Vampiro no Brooklyn

Um Vampiro no Brooklyn

Outra comédia de terror, mas dessa vez com o primeiro Drácula negro do cinema. Após a morte de sua mãe, uma detetive da polícia é designada para um caso de assassinato em série. Quando estuda a cena do crime, um navio cheio de cadáveres, ela conhece um playboy que tenta conquistá-la. Porém, a partir desse encontro, ela começa a ter alucinações e, por isso, recorre a um ocultista, pois suspeita que tenha sido mordida por um vampiro.

Um Vampiro no Brooklyn, de 1995, tem Eddie Murphy e Angela Bassett e foi dirigido por Wes Craven. Craven é considerado um mestre de filmes de terror, mas gosta de misturar terror com sátira e humor. Em sua longa carreira, Craven também criou a série de filmes A Hora do Pesadelo (Nightmare on Elm Street), dirigiu os primeiros quatro filmes Pânico (Scream), além de vários outros

Eddie Murphy imaginou Um Vampiro no Brooklyn como um filme de terror puro. Mas o diretor Wes Craven estava tentando se dedicar à comédia e isso gerou algumas dificuldades no set. O filme é notável na carreira de Murphy, pois reflete o desejo do ator de nunca ser rotulado apenas como um cara engraçado. Por isso ele levou o papel do vampiro-chefe Maximilian muito a sério, tentando criar um vilão. Maximilian não era um Drácula negro, mas não podia deixar de falar sobre Um Vampiro no Brooklyn. Pois esse filme prova o que vários críticos do cinema já disseram, o horror e a comédia combinam muito bem.

Drácula – Morto Mas Feliz – 1995

Drácula - Morto Mas Feliz

Leslie Nielsen em Drácula – Morto Mas Feliz

Mas uma comédia sobre Drácula, mas dessa vez com todo o escracho de Mel Brooks. Embora Brooks já tenha feito isso em outros filmes, o filme Drácula – Morto Mas Feliz esvazia o fascínio do monstro. Em vez de fazer com que as pessoas queiram ser como Drácula, Brooks torna o conde ridículo e retira qualquer ambição de alguém desejar ser igual à ele. Talvez Mel Brooks tenha feito esse filme para transformar o vampiro em monstro novamente. Pois Hollywood estava evitando os vampiros, no início dos anos 90.

Por isso tivemos filmes como Entrevista com um Vampiro (1994) e Drácula, de Bram Stoker (1992), que apresentavam pessoas simpáticas, como bebedores de sangue. Algo que fez com que o público chegasse a ter pena desses pobres vampiros. Tínhamos menos sanguessugas diabólicos e mais belos vampiros em busca de companhia e amor. Tudo isso levou a um infeliz Crepúsculo, criado em 2008. Drácula – Morto Mas Feliz é um filme muito engraçado e consegue devolver Nosferatu ao posto de ser totalmente maligno. Pois Leslie Nielsen interpreta um vampiro desajeitado, engraçado e muito mau.

Drácula de Bram Stoker – 1992

Drácula de Bram Stoker

Retorno aos tenebrosos filmes de Drácula com um clássico: Drácula de Bram Stoker. Essa filmagem, de 1992, foi realizada por Francis Ford Coppola. A inspiração, lógico, é o clássico gótico de Bram Stoker que é, essencialmente, um filme sobre amor. O livro é um romance epistolar muito bom, e surgiu num tempo de profundas mudanças na sociedade londrina.

Era o tempo da revolução industrial, da mudança de uma sociedade primordialmente rural para urbana, da busca de mais direitos civis. Por causa disso, talvez, Coppola busque um contraste quase barroco de luz e escuridão. Algumas tomadas me lembram quadros de Caravaggio, todavia, o ponto central do filme é o amor.

O amor que amaldiçoou Vlad Dracul, o fez reencontrar a amada 4 séculos mais tarde, na fervilhante Londres Vitoriana. Depois do suicídio da noiva e da negativa dos padres em enterrá-la em solo sagrado, Vlad briga com o Deus cristão e se dedica a aprender os segredos da imortalidade. Quatro séculos mais tarde, ele vê a foto de Mina, a noiva do corretor de imóveis que vai atendê-lo. Ao se reapaixonar, Vlad atrai Mina com seus encantos, pois é o amor dela que irá liberta a alma do conde Drácula. A tensão sexual vitoriana é fortemente sentida, porque a repressão dessa pulsão só a faz aparecer de forma mais intensa e violenta.

Nosferatu – O Vampiro da Noite – 1979

Nosferatu-Herzog

Nosferatu – O vampiro da noite de Werner Herzog

Em 1979, Werner Herzog, um dos melhores diretores alemães, adaptou a história de Vlad Dracul do filme Nosferatu, O Vampiro da Noite. Estrelado pelo controverso Klaus Kinski, pela bela Isabele Adjani e pelo meu ídolo alemão Bruno Ganz, o filme conta, também, uma história de amor, mas o clima é muito mais sombrio.

Herzog faz um filme lento, com trilha sonora densa, inclusive utilizando trechos do Anel dos Nibelungos, de Wagner. A produção é bem mais simples, há poucos atores e as cenas são muito mais aterrorizantes. Todavia, o enredo de Stoker foi bastante alterado e, ao contrário de Coppola, que narra o surgimento da maldição, Herzog já parte da compra do terreno próximo à cidade onde Lucy (Adjani) vive. Portanto omite se o amor é na verdade uma história rediviva, ou é à primeira vista. Harker, nesta versão, vai herdar o vampirismo depois de Van Helsing destruir Nosferatu. Fiquei curioso de saber o que se passava na Alemanha em 1979, para Herzog dar um tom tão desesperador a essa trama.

Filmes sobre Drácula serão eternos e sempre termos novas versões

Os filmes acima apresentam a evolução de Drácula, pois o personagem é um monstro criado para canalizar a ansiedade da sociedade do século XIX, que tinha receio de ideologias estrangeiras. Já o século XX testemunhou o nascimento de vampiros mais atraentes, em uma tentativa de atrair a simpatia dos espectadores. Mesmo assim, Drácula continuou a incorporar nossos maiores medos e desejos reprimidos. Agora, em pleno século XXI, era da globalização, do politicamente correto e do fascismo, estamos reaprendendo a ver Drácula como um ser humano. Apesar de boa parte da sociedade atual estar perdendo totalmente a sua humanidade

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