O que o Spotify nos diz sobre o capitalismo, a cultura e o imenso poder do streaming e todo o setor de tecnologia da informação.
Spotify e o capitalismo do Streaming
Estava lendo hoje que o Spotify pretende cobrar uma espécie de aluguel dos artistas que não são muito acessados na plataforma. Quem assistiu à série The Playlist (2022), que no Brasil teve o ridículo título Som na Faixa, sabe que o sonho inicial do Spotify, era ser igual ao Pirate Bay. No entanto, acabaram criando um serviço de streaming construído sobre as bases da exploração.
Com a chegada da Web 2.0, músicos e gravadoras independentes começaram a lançar músicas para um público conectado, globalmente, mas com custos bem menores do que o do mercado fonográfico. O discurso inicial dessas Startups, dizia que a indústria musical seria democratizada. Ou seja, todos os artistas poderiam ganhar bem e as gravadoras independentes poderiam competir com as grandes gravadoras.
No entanto, como a maioria das visões dessa utopia digital, isso acabou ficando bem distante da realidade. Mesmo assim, a participação dessas Big Techs na indústria da música, aumentou muito nos últimos anos e o streaming passou a ser a maior fonte de renda. Com todo esse lucro, as plataformas digitais exercem, cada vez mais, um poder altamente predatório.
O Spotify e o capitalismo do entretenimento
Uma característica bem marcante da cultura, nesse mundo capitalista moderno, é que o acesso à qualquer experiência cultural está sujeito à mudanças frequentes e radicais. Algo que está muito aparente nessas mudanças recentes, no mercado de streaming musical, traz uma situação complicada para os artistas. Pois a maioria deles não sabe se é melhor oferecer sua música onde os fãs estão, aceitando os preços que muitos consideram bem baixos.
Com certeza esse não é um problema que só o Spotify causa, pois Amazon Music, Apple Music e outros serviços de streaming, também visam o lucro imediato. Por isso é necessário a criação de um serviço de streaming que reduza a desigualdade entre gravadoras independentes e as grandes. Além, é lógico, que esse novo serviço de streaming não tenha uma politica de vigilância e mercantilização de dados. Ou seja, os algoritmos podem se tornar transparentes e mais responsáveis, garantindo a privacidade e a proteção de dados, de acordo com os desejos e as necessidades do público e dos músicos e artistas.
Um modelo que explora artistas e público
Por isso o atual modelo de streaming não foi construído pensando nos artistas, que alimentam e mantêm esse serviço. Esse modelo só visa os interesses das grandes gravadoras corporativas, plataformas de streaming e o capital de risco, que estão sempre em primeiro lugar. Para que isso aconteça, esse sistema deve permanecer inalterado, atendendo apenas os interesses do deus mercado. Por isso que a exploração dos artistas e a desvalorização de sua música, continuam sendo algo interessante.
A música, ou qualquer serviço cultural, não deve ser simplesmente usada para vender publicidade, enriquecendo as grandes marcas corporativas. O streaming deveria ser projetado para servir os artistas e o público, mas isso só vai mudar com a pressão da sociedade.
Por enquanto, estamos como essa música dos Titãs: “Eu não trabalhava, Eu não sabia, Que o homem criava e também destruía. Homem primata, Capitalismo selvagem”.
Pois é assim que o capitalismo funciona.