A Série O Nome da Rosa mostra um mundo que insiste em existir

Esta semana eu terminei de ver o seriado O Nome da Rosa, feito e dirigido por Giacomo Battiato e estrelado por John Turturro no papel de William de Baskerville.

Turturro também está na equipe de roteiristas. A produção é muniquense, o que já traz, na minha opinião, um ponto positivo para a obra. São oito capítulos em que seguimos as aventuras do monge semiólogo e detetivesco inglês, tentando descobrir uma trama envolvendo as paixões e segredos de uma comunidade monacal, submersa em mortes misteriosas. Tudo gira em torno de uma biblioteca, no romance, a mais prestigiosa de todo o mundo conhecido.

Não há como não comparar com a produção roliudiana de 1986. Eu já era um apaixonado pelo livro quando vi a adaptação e, claro, não esperava grande coisa. Adaptar um romance daquela magnitude e tão polissêmico para duas horas de narrativa audiovisual, além de uma tarefa hercúlea, tende a ser inglória como todas as adaptações, mas o resultado deixou muito a desejar. Como sempre, roliúdi transformou uma história sensacional de mistério, assassinatos, intrigas políticas e religiosas medievais, numa bobagem de amor. Deu ênfase excessiva ao encontro frugal no romance entre Adso, o narrador, e a aldeã faminta. O ponto positivo da adaptação é a caracterização.  O cenário da abadia é bem bonito (talvez locação), Abrahan F. Murray brilha no papel de Bernardo Guy, o inquisidor beneditino e, principalmente Ron Perlman, o Salvatore, um personagem enigmático no livro e que foi magistralmente transportado para a tela por este grande ator. Sean Connery é canastríssimo como sempre, fez um William bem sofrível. Lógico que era um medalhão e recebeu prêmios pelo trabalho, mas eu achei fraco. Enfim, o pior mesmo foi o roteiro. Eu admitiria que chamassem o filme de O Segredo da Biblioteca – livremente inspirado no romance O Nome da Rosa. Seria menos feio.

O subtítulo dessa capa de VHS dá ideia do quão equivocada é essa produção.

Já o seriado tem uma pegada mais detetivesca. O Bernardo Guy de Rupert Evertt apresenta dramas mais psicológicos, mas faz caretas demais, e o que faz Salvatore deixa bem a desejar. Já John Turturro e Damian Hardung, que fazem o  par de personagens principais, William de Baskerville e Adso de Melk (este o narrador da trama), são brilhantes. O roteiro é melhor cuidado que o do filme, e, embora também trate do romance de Adso com a aldeã faminta, não faz desse ponto da história a linha principal para conduzir ao final. A importância da biblioteca é maior na adaptação para a série. No livro, a biblioteca é a personagem principal. Outra boa tradução do romance para a série são as insinuações de personagens históricos. Fica muito mais claro que William de Baskerville é uma fusão entre Shakespeare e Sherlock Holmes e que Jorge de Burgos é uma homenagem lindíssima ao argentino Jorge Luís Borges. Há personagens que foram inseridos e que não existem na trama original, mas isso não prejudica a narrativa.

Evidentemente, as sutilezas semiológicas distribuídas ao longo do livro pelo grande Umberto Eco são totalmente perdidas. Isso não dá para traduzir. Também se perde um pouco, mas muito menos que no filme roliudiano, a intriga política da discussão sobre a pobreza pregada pelos franciscanos e a cobiça da igreja já estabelecida. Mas as falas de William são muito bem adaptadas e o debate dele com Bernardo são belamente tratados tanto pelos roteiristas quanto pelos atores que lhes dão vida.

No entanto, a súbita mudança de final é um ponto tremendamente negativo. O seriado tem uma conclusão totalmente oposta ao livro. É bem decepcionante. Mas ao fim e ao cabo, é uma adaptação muito superior à outra.

Artigo em Parceria com Incansável Encantamento

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