Matrix Resurrections e o seu admirável mundo novo e não binário

A trilogia Matrix parece ser sobre escolhas binárias, pois mostra pílula vermelha ou azul, homem ou máquina, Matrix ou realidade, livre arbítrio ou destino.

Matrix Resurrections

Cena de Matrix Resurrections

Matrix sempre foi sobre escolhas, mas Resurrections rejeita essa opção binária falsa entre vermelho e azul e mostra um mundo mais complexo, onde humanos e máquinas podem criar praticamente tudo.

A trilogia Matrix sempre mostrou que as diretoras Lana e Lilly Wachowski lutavam contra o legado do filme original. Por isso as duas sequências foram uma desconstrução da narrativa arquetípica do escolhido e agora, com Lana Wachowski retornando à franquia para dirigir essa sequência tardia, ela também encarara alguns dos legados mais espinhosos do filme original.

Matrix: Resurrections inicia como uma homenagem cansativa à trilogia e demora um pouco para liberar o admirável mundo novo, que Lana imaginou. Resurrections mostra Neo (Keanu Reeves) como um desenvolvedor de videogames famoso, por ter criado a trilogia de jogos Matrix. No entanto, o enredo dos games imita os da trilogia dos filmes original das Wachowskis. Como em nosso mundo, onde a trilogia dos filmes Matrix tem sido altamente bem-sucedida e influente como espetáculo, os games que aparecem em Resurrections tiveram o mesmo efeito sobre a população, que vive dentro de uma nova versão da própria Matrix.

Lana sugere que, como no filme, nunca seremos capazes de escapar da Matrix. Nossas versões na rede social, nossa mídia, nosso senso de identidade e como entendemos o mundo, é exatamente igual ao nosso reflexo no espelho preto. Ou seja, estamos cientes de que a Matrix existe, mas não estamos dispostos a fazer logoff.

Matrix Resurrections

Morpheus em Matrix Resurrections

No filme, a empresa que fabrica games é a Warner Bros., que contratou Neo para fazer um quarto game sobre Matrix. Nessa reunião vemos a equipe de Neo detalhando o que faz esses games originais serem bem-sucedidos. Um diz que é tudo sobre armas e bullet time, aquele espetacular efeito visual do primeiro filme, criado em 1999. Já os outros dizem que é só pornografia mental, que Matrix é sobre política trans, criptofascismo e até exploração capitalista. Uma sátira às várias avaliações que a trilogia despertou nas pessoas.

Enquanto isso, no meio dessa reunião, vemos um Neo desanimado, lutando internamente para descobrir se isso realmente existe e se ele vive uma realidade.

Esse é o aspecto mais fascinante dos filmes Matrix, enquanto o primeiro oferece uma história simples onde o bem triunfa sobre o mal, as partes dois e três destroem o heroísmo de Neo. No segundo filme, Matrix Reloaded, o arquiteto da Matrix (Helmut Bakaitis) diz a Neo que as máquinas o criaram como um programa. Isso para absorver as contradições dentro dessa simulação e para que as revoluções humanas apenas ajudem a fortalecer as versões subsequentes da Matrix. Uma metáfora perfeita do mundo capitalista e selvagem que vivemos.

Trinity em Matrix Resurrections

Em entrevistas recentes, Wachowski tem sido bastante sincera sobre o que ela acha que são as interpretações erradas sobre Matrix. Ela achou irônico que certas interpretações de Matrix tenham se tornado tão doutrinárias e adversas, quanto o sistema que está sendo criticado nos seus filmes.

Para alguns é uma interpretação muito rígida, quase ideológica; eles não acham graça no fato de que sua perspectiva é um sistema mais controlado do que a própria Matrix”, disse Wachowski.

Matrix: Ressurrections está cheio de escolhas, mas que não precisam ser escolhidas e essa rejeição às opções binárias é óbvia, até mesmo na linguagem visual do filme. Os filmes anteriores tinham uma paleta de cor monocromática, com algumas pequenas exceções. Já Resurrections rejeita esse mundo em preto-e-branco, com tons de verde, e seu esquema de cores é bem amplo, enfatizando repetidamente a importância de que tudo deve existir em harmonia e não em oposição.

Nesse admirável mundo novo de Resurrections tudo está conectado e as pessoas têm a obrigação de ajudar umas às outras. Neo e Trinity (Carrie-Anne Moss) conseguem entender essa nova Matrix e percebem que não há sentido em desconectar a humanidade. Por isso eles não matam o terapeuta (Neil Patrick Harris) que os manteve na escravidão e, em vez disso, agradecem a ele. Afinal, foi por causa do terapeuta que eles descobriram o grande poder da redescrição, a liberdade que vem quando paramos nossa busca pela verdade, seja lá o que esse conceito nebuloso possa significar. Por isso lutamos por novas formas de nos conectarmos.

No final, de mãos dadas, Neo e Trinity decolam e voam por esse mundo novo, que eles podem finalmente reconstruir. Mas sem tomar a pílula vermelha.

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