Metrópolis é um filme de Fritz Lang que mostra o utópico Clube dos Filhos, contrastando com a distópica Cidade dos Trabalhadores.
Metrópolis é um filme de Fritz Lang
Só posso lamentar que o Apple TV+ tenha desistido de produzir uma adaptação do clássico Metrópolis, pois a série foi cancelada por causa da greve dos roteiristas, nos EUA. Metrópolis é um filme bem antigo, lançado em 1927 e, além disso, é considerado um clássico do cinema mudo.
O filme inicia mostrando um contraste terrível: A Cidade dos Trabalhadores e o Clube dos Filhos. Na primeira os trabalhadores vestem roupas pretas e uniformizadas, andam com a cabeça baixa e vivem como escravos. Totalmente diferente da outra, pois o Clube dos Filhos é uma paisagem quase utópica, onde os herdeiros de ricos industriais vivem uma vida de hedonismo, repleta de bibliotecas, teatros, comida e bebida, em total felicidade.
Metrópolis é um clássico do cinema, porque mostra uma sociedade distópica e dividida, mas de uma forma bem precisa e realista. Por isso, que desde o seu lançamento, Metrópolis inspira vários filmes de ficção científica, incluindo Blade Runner. Além disso, seu design chegou a ser replicado por diretores como Stanley Kubrick, Steven Spielberg e George Lucas.
Metrópolis foi restaurado em 1984
Em 1984, o intérprete e compositor Giorgio Moroder consegue restaurar o filme, para torná-lo mais acessível ao público dos anos 80. Metrópolis teve seu tempo de execução reduzido e adicionaram recortes coloridos aos quadros, que eram totalmente em preto e branco. Sua nova trilha sonora também recebe uma atualização e tem a participação de Freddie Mercury, Adam Ant e Bonnie Tyler.
Fritz Lang afirmava que iniciou a criação de Metrópolis em 1924, quando conheceu a cidade de Nova Iorque, o centro do capitalismo ocidental. Ele até descreveu como as luzes brilhantes e os cenários luxuosos da cidade conseguem desviar a atenção, criando uma perpétua ansiedade. Fritz Lang também disse que Nova Iorque era quase composta de ilusões, e isso o inspirou a criar um filme que retratasse esse futuro industrial. Lang também falava sobre a arquitetura da cidade e como isso o ajudou a construir o mundo expressionista de Metrópolis.
A luta de classes de Metrópolis
O filme apresenta toda a miséria e a opulência desta sociedade, e como isso está destinado a durar para sempre. Mas a esperança, sempre ela, vem na forma de uma mulher, uma missionária que vive ao lado dos filhos de trabalhadores. Essa mulher percebe que os alienados aristocratas estão perdidos e preocupados em cuidar de seu bem-estar físico e moral. Por isso ela se aproxima das crianças e diz: “Estes são seus irmãos!”
Um jovem, totalmente paralisado, observa essa mulher e imediatamente se apaixona por ela. Como ele é filho de um magnata que controla a cidade, o conflito desse filme passa a ficar bem claro. Pois, por causa dessa paixão, o homem desce aos níveis mais baixos da sociedade, para conhecer a vida miserável dos trabalhadores e testemunhar toda a exploração industrial. Ele fica impressionado com as alavancas que os trabalhadores precisam puxar, pois elas na verdade são ponteiros gigantes de um mostrador de relógio. Algo que requer o esforço simultâneo de ambos os braços, além de ser um trabalho assustador, que se assemelha a uma crucificação.
Veja o pôster do filme Metrópolis
Logo depois dessa cena, vemos a missionária contando aos trabalhadores uma história sobre a Torre de Babel, que ela descreve como uma alegoria comunista. Ou seja, trabalhadores miseráveis constroem a torre e uma guerra de classes consegue destruí-la. Com essa cena o filme cria uma parábola sobre a destruição da sociedade, que está dividida entre cabeças e mãos. Por isso vemos um homem, totalmente paralisado nesse momento, perguntando: “Quem será nosso mediador?” Nessa hora uma luz do céu cai suavemente sobre ele.
Após esse acidente catastrófico, um cientista perverso constrói um robô que assume a identidade da missionária, pois ela tentava conduzir os trabalhadores à rebelião. A partir desse momento, quem incita essa rebelião é o referido robô, totalmente estilizado para se parecer com a missionária, que é uma pessoa do povo, numa tentativa de unificar a população.
No entanto, esse andróide reflete a raiva e os rancores pessoais do cientista louco que o criou, e isso leva a multidão à fúria. O final é apoteótico e vale à pena ser visto, apesar do filme ser bem antigo. Espero que a Apple reinicie a produção dessa série inspirada em Metrópolis, pois esse filme ficaria fantástico com a tecnologia atual.
Metrópolis tem suas raízes fincadas nos romances distópicos de H.G. Wells, mas a versão em preto e branco do filme é muito mais forte do que palavras, pois consegue apresentar uma estética realista e uma preocupação ainda atual: Quem será nosso mediador?