Doutor Gama: a discussão abolicionista ainda é necessária


A Globoplay tem Doutor Gama, dirigido por Jeferson De, um filme essencial para a compreensão e a reflexão dos nossos tempos.

Cena do filme Doutor Gama

Doutor Gama retrata um dos advogados abolicionistas mais importantes do Brasil e que por muito tempo foi ignorado, o Dr. Luís Gama. Recentemente Gama tem sido mais lido e estudado e isso tem a ver com a transformação da cultura acadêmica do Brasil nos tempos dos governos Lula e Dilma. No entanto, durante muito tempo, ele era apenas mais um dos muitos negros importantíssimos da nossa história, apagados dos livros oficiais.

A película está está disponível na Globoplay e conta a história de um dos mais notáveis abolicionistas deste País. Um homem negro, escravizado pelo pai aos 10 anos para pagar uma dívida de jogo. Mas aos 17 anos ele aprende a ler e escrever, torna-se rábula e luta incansavelmente pela liberdade de vários escravizados. O filme conta uma parte dessa trajetória, calcada em um dos casos do grande advogado. Resume muito bem a biografia do personagem principal, sem ser piegas nem panfletário. Tem direção e edição sensacionais, e o ator principal é brilhante.

O elenco, composto por Cesar Mello, Pedro Guilherme e Angelo Fernandes, no papel título, nas várias fases da vida. Além disso, tem Mariana Nunes, na pele da esposa do advogado; Eron Cordeiro, no papel do promotor de justiça que se contrapõe a Luís Gama no julgamento principal, dentre outros, um elenco equilibradíssimo. São todos brilhantes em seus papéis e levam a trama com tremenda competência. Em vários momentos do filme, me lembrei do totêmico Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves. Esse livro narra uma trajetória meio fictícia e meio verdadeira, sobre a mãe de Luís Gama e sua busca do filho perdido, vendido pelo pai. Luísa Mahin, ou Kehinde, no livro, é a personagem que nos faz compreender muito do que vivemos hoje.

E ainda é muito importante falar disso, porque o Brasil é um país em débito com essa população descendente dos africanos, de diversas origens, escravizados e trazidos para cá brutal e estupidamente. Não há justificativa plausível para o que acontecia, nem com o tipo de tratamento a que essas pessoas eram submetidas depois de capturadas em seus lugares de origem. Portanto, não há como refletir o futuro do Brasil sem pensar nesse passado de dor e crueldade que se perpetua nas falas mais absurdas e abjetas.

A obra cinematográfica de Jeferson De tem de servir de alerta para a reflexão dessa situação, com suas cenas icônicas e necessárias. Além disso, a magia dos Orixás é sutilmente trazida, mas está presente, e o desprezo que os brancos sempre demonstraram para com os negros é demonstrado em várias cenas. Mas nenhuma tão icônica quanto a recepção que a fazendeira dá a Gama, ao saber que ele defenderia o escravo que matou o marido dela. Clara Choveaux encarna muito bem essa fidalguia luso-brasileira, no pior sentido que essa palavra pode ter.

Doutor Gama está disponível na Globoplay

Outro ponto de destaque é que as mulheres retratadas no filme são fortes, determinadas e, em algumas cenas, verdadeiras guerreiras pela liberdade dos negros escravizados.

Por isso esse filme precisa ser visto e comentado, mas também estudado e discutido em toda a sua profundidade.

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Veja o trailer abaixo

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