O monstro está na narrativa de Penny Dreadful e cada personagem luta não apenas contra suas monstruosidades, mas também contra seus próprios demônios pessoais.

Eva Green é Vanessa Ives em Penny Dreadfull

O excesso de conteúdo presente nas plataformas de streaming fazem com que deixemos de lado algumas séries e filmes que deveríamos assistir. Como a série Penny Dreadful, do Paramount+, que estou assistindo 11 anos após o seu lançamento.

Temos vários seres monstruosos nessa série, mas também vemos os personagens lutando contra a maldade interna e externa. Penny Dreadful combina as preocupações presentes na literatura do século XIX, da qual a série se inspira, com o fascínio por monstros que o público do século XXI tem. Por isso vemos Frankenstein, Lobisomem, Vampiros, Bruxas, Van Helsing, Dorian Gray e Vanessa Ives (Eva Green) enfrentando e ajudando todos esses personagens.

Até agora já assisti duas temporadas de Penny Dreadful e todos os episódios têm temas bem sombrios. Vemos os personagens convivendo com a culpa, a repressão, a criação, a monstruosidade e a convergência entre o sagrado e o profano. Boa parte da narrativa da série é a dualidade e cada personagem tem seu eu secreto, que é ocultado e reprimido. Quando essa força do mal presente nesse eu secreto é reprimida, o poder que os personagens têm sobre sua própria existência, enfraquece.

Vanessa esconde sua maldade interna e reprime até a sua sexualidade natural, isso a deixa vulnerável à possessão e ao sofrimento. Ethan esconde o lobo que atormenta sua alma e toda a violência que ele causa, quando se transforma nessa fera. Victor Frankenstein reprime a história de John Clare e Lily, dois monstros criados por ele e isso o ajuda a fingir que é imortal.

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Os monstros e a humanidade maléfica de Penny Dreadful

Lily Frankenstein, Doutor Frankenstein e Dorian Gray

Dorian, Lily, John Clare e Ethan são brutais, mas de uma maneira sobrenatural. Eles estão nessa encruzilhada, entre a criação e a monstruosidade de cada um. Essas criaturas vivem nas trevas da sociedade e não conseguem controlar o que fazem. Vemos isso quando esses personagens enfrentam a maldade humana e reagem de forma devastadora, matando e mutilando.

Já Sir Malcolm, Sembene e Victor Frankenstein, conhecem a maldade e, por isso, são humanos que tentam esconder o demônio interno que os atormenta. Sir Malcolm era um explorador violento, Sembene vendeu seus compatriotas como escravizados e o Dr. Frankenstein criou três criaturas para satisfazer seu próprio ego e curiosidade. Três homens que tentaram brincar de Deus e foram contaminados nesse processo.

Vanessa está entre esses dois grupos porque a maldade sempre está ao seu lado, como trair sua amiga Mina e também por ser vulnerável à possessão. Mas essa personagem mostra todo o poder feminino dessa série. Essa criaturas deixam seres sobrenaturais habitarem suas almas e os enfrentam com várias armas. Vanessa foi marcada com uma cruz nas costas e mesmo assim ainda reza, antes de enfrentar o mal que está nas sobras de Londres.

Aliás, o poder feminino presente em Penny Dreadful mostra mulheres encarando e dominando todos os homens da série. Lily Frankenstein engana Victor, faz Doria Gray ficar ajoelhado e mata aqueles que a dominaram no passado. Antes de virar uma criatura do Dr. Frankenstein, Lily era uma prostituta dominada e desprezada pelos homens. Agora ela persegue e mata aqueles que a fizeram sofrer. Até as bruxas da série dominam os personagens masculinos e os fazem chorar de medo, mas também perseguem Vanessa. Elas querem o poder que Vanessa tem e pretendem entregá-la ao mestre da trevas.

Rory Kinnear é a criatura do Dr. Frankenstein em Penny Dreadful

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O fascínio pela monstruosidade no século XXI

Ao combinar o horror de personagens da literatura antiga, com as preocupações psicológicas do século XXI, Penny Dreadful mostra o quanto ainda somos fascinados pela monstruosidade, em todas as suas formas. A humanidade tem o desejo de compreender o monstro e até sentir empatia por ele. Essa é uma sensibilidade presente no século XXI e isso caracteriza as novas abordagens dessas histórias antigas. Frankenstein é uma criação de Mary Shelley e o livro é de 1818. Drácula, personagem de Bram Stoker, foi criado em 1897. Dorian Gray, personagem criado por Oscar Wilde, é de 1890 e até hoje está presente em filmes e séries. Aliás, esse personagem, que mostra a excessiva preocupação do indivíduo com a sua própria aparência e a velhice, é responsável pela síndrome de Dorian Gray.

“John Clare, o monstro de Frankenstein em Penny Dreadful, disse: cada pessoa está moralmente ligada para sempre àqueles que elas já machucaram.”

Não é por um acaso que Penny Dreadful introduz esses personagens dos filmes de terror na série, mas a série também valoriza a força femina de Vanessa, Lily e companhia. Vanessa não é uma personagem fraca e mostra sua superioridade quando encontra personagens masculinos. Ela é desejada tanto por homens quanto por demônios, mas não se ajoelha para nenhum deles.

Lily é uma criação do Dr. Frankenstein e ele acha que criou uma criatura sensível. Mas Lily engana Victor e abandona o papel de mulher delicada e sorridente. Ela prefere liberar todo o poder que possui sobre os homens e esta é a verdadeira monstruosidade dessa personagem. Lily e Dorian Gray acreditam que essa força maligna os torna uma raça superior. Embora essa existência seja totalmente antinatural, eles se enxergam como uma evolução natural da espécie humana.

Penny Dreadful consegue criar um novo universo para personagens que já assustaram várias gerações, mas com uma abordagem que valoriza a força feminina. A série transmite toda a atmosfera sombria da época vitoriana e mistura esse ambiente gótico com monstros do passado e uma história aterrorizante. Principalmente se você assistir cada episódio na calada da noite. Penny Dreadful é uma série que chegou ao Paramount+ em 2014, mas sua história não envelheceu. Pelo contrário, ela continua sendo mais assustadora que várias séries e filmes de terror mais modernos.

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Veja abaixo o trailer de Penny Dreadfull

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